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O que é a Raiva

Atualizado: 4 de set.

Foto de bell hooks.
Foto de bell hooks.

A explosão da violência a nível mundial é um convite para cada um de nós olharmos para nosso próprio interior. Para tentarmos dialogar com o cão raivoso dentro de nós.

Jung dizia que toda fera enjaulada vai tentar escapar; e que quando sair terá a mesma intensidade do tempo em que passou na prisão. Do tempo em que não foi ouvida, em que não teve contato, em que não houve tentativa de entendimento. Isso é violência contra nós mesmos: quando temos um instinto, uma característica, uma qualidade que não é aceita no entorno onde vivemos. E por não ser aceito nós trancamos numa jaula lá no porão de nossa psique e ainda jogamos a chave da porta fora.

Veja: o que foi trancado não era necessariamente ruim, negativo. Só não era aceito. Ou só era “esquisito” para a exigência do meio. Mas o fato é que, ao trancar numa jaula nosso instinto, nossas qualidades, nossas características, isso vai crescendo “lá embaixo”, no porão do inconsciente.

Rejeitar uma parte nossa por causa dos outros é algo tão natural em nossa sociedade, mas é algo que nos adoece. E posso afirmar de forma muito segura, como especialista em sequelas do trauma precoce, que nosso povo está adoecido. Porque somos uma cultura muito polarizada, com uma baixa autoestima, com uma história patriarcal muito forte ainda.

Quando vemos uma criança com ataque de raiva genuína e ouvimos alguém dizer: “Não faça isso, não grite, não chore, não dê socos no travesseiro porque isso é feio”, estamos impedindo a criança de extravasar toda essa intensidade, toda essa energia. E se a criança cresce fazendo isso de novo; e de novo; e de novo; chega uma hora que pode perder a capacidade de demonstrar as emoções de forma espontânea.

A clínica está cheia de jovens adultos chegando para análise com o pedido: “quero voltar a ser espontâneo(a)”. “Quero voltar a ser eu mesmo”.

São pedidos recorrentes. Por quê? Porque foram podados. Porque foram impedidos de demonstrar quem realmente eram. Porque foram rejeitados em sua forma natural de ser. O natural deles não era bom, então precisaram se tornar culturais: então se distanciaram do eu real. E com isso há sofrimento. E com isso há uma ferida profunda no Self: na alma não ouvida, na alma não vivenciada plenamente. Na alma que ficou sufocada. Na alma que foi enjaulada.

O estranho é que vivemos numa sociedade que se diz “cristã”. Mas nosso senso de amor é assim: amamos os iguais; amamos os irmãos e irmãs que pensam como nós; que têm a mesma filosofia de vida, etc.

O amor incondicional: esse na prática do dia a dia ainda precisa ser encontrado para ser vivenciado.

  O caminho para a cura da raiva no mundo começa com cada um de nós, internamente. Começa reconhecendo que temos raiva, acolhendo a raiva. Entrando em contato com ela; convidando ao diálogo. Então criamos um lugar de elaboração onde a fera pode começar a sair pouco a pouco da jaula; porque foi convidada. No início a aproximação pode ser estranha, pode ser desconfortável. Mas aos poucos, na medida em que toda energia psíquica paralisada ali vai se movimentando vem o abrandamento. Vem as descobertas, as revelações, as transformações. A força que estava ali trancada com a fera vai sendo incorporada ao eu. O eu real vai ganhando vida; o que, por sua vez vai fortalecendo o ego.

O ego é o centro da consciência e precisamos dele forte, flexível, coerente. Precisamos do ego dialogando com o Self para nos sentirmos plenamente vivo, reais, caminhando para a realização.

Um ego sem contato com o Self, com o espírito pessoal (um termo dos pós junguianos) é um ego fragilizado, enfraquecido, adoecido.

A raiva é uma força poderosa que pode gerar transformação: quando conscientizada e vivenciada em seu lugar devido. A raiva sufocada gera violência: contra nós e contra os outros.

Compartilha esse artigo: vamos fazer uma corrente de conscientização da raiva.

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