Qual é Minha Verdadeira Face? E Minha Verdadeira Voz?
- psimbolom
- 24 de nov.
- 4 min de leitura

Esse é o sonho de uma analisanda (alguém que está em análise clínica). Ela trabalha criando conteúdos para redes sociais. Esse sonho se deu após a leitura que indiquei do livro "Ciranda das Mulheres Sábias". O sonho fala sobre a persona e a busca da verdadeira face, a que reflete o centro, o núcleo, a alma, o Self.
Pedi para utilizar o sonho para uma mensagem no site e ela de bom grado me concedeu. Agradeço de coração!
O Sonho: “Parecia um hospital de campanha, havia muitas mulheres deitadas em camas (cada cama com roupas de cama brancas), vestidas todas com camisolas igualmente brancas. Essas mulheres escreviam e cada uma tinha sua própria letra.
Nos rostos arte feita com algum tipo de tinta preta. Mas esses rostos logo ficaram irreconhecíveis quando receberam um tipo de massagem facial (estariam esses rostos sendo moldados por essas mãos?).
Tentei encontrar minha companheira no meio destas tantas mulheres, mas estava difícil. Eu não conseguia reconhecer sua voz no meio de tanta fala.
Foi então que tive a idéia de procurá-la por sua escrita. Em cada cama havia um caderno com a letra de sua dona. Somente assim pude encontrar minha companheira, através de sua letra, pois que sua voz estava perdida em meio a outras; assim como seu rosto parecia derretido no meio de tanta tinta que borrou com as massagens faciais.”
Sonho de uma analisanda, compartilhado com o seu consentimento.
Amplificação do conteúdo do sonho e questionamentos:
Nossa contemporaneidade vê diariamente crescer a manipulação facial que virou um tipo de febre. As faces assim se confundem na medida em que todos os rostos se parecem, em que são manipulados, em que as tintas borram a verdadeira face natural. Onde encontrar o natural nos dias atuais? Será que a falta do natural adoece? Será que encontrar a “verdadeira companheira”, a alma companheira é algo fácil?
Quantas máscaras/persona uma única pessoa precisa ter para se adaptar em nossa sociedade? E cada máscara tem sua própria voz? Como e por que essa voz acaba por se confundir com as outras vozes? Como nossa própria voz parece se perder em meio às vozes alheias? A reconhecemos afinal? Com que frequência a ouvimos? E quando ouvimos: temos certeza que o que diz é nossa própria mensagem; ou estamos repetindo o que ouvimos; ou o que algum outro alguém quer ouvir? Que mensagem nossa própria voz, aquela da alma companheira, quer expressar para se distinguir?
Embora nossas vozes às vezes possam se confundir em meio a tanta fala, em meio a tontos falantes, é em nossa escrita que podemos reconhecer a alma. Porque para escrever é preciso maior esforço. Existe a expressão: “a pessoa fala pelos cotovelos”. Dando-nos notícias de que a pessoa fala sem pensar, fala no piloto automático; é a verborragia. O mesmo não se dá com a escrita.
Na escrita há uma pausa para pensar. Na escrita precisa haver a escolha das palavras. Embora sim se possa transmitir mensagem que não são verdadeiramente nossas, em que a alma perdida não pode ditar as palavras (as palavras da alma ficaram perdidas com ela). A mensagem da alma fica inacessível quando o ego está desconectado do Self.
Todos nós temos persona, ela é um instrumento de adaptação. Mas quantas personas é possível ter sem que alguém adoeça? Porque cada persona demanda.
O problema com a persona é quando alguém se identifica com ela. Quando alguém gruda no papel que desempenha. Quando alguém percebe que não sabe mais ser espontânea(o); quando não sabe mais qual sua própria voz. Quando não sabe dizer o que a alma quer expressar.
Então há o sofrimento, a angústia, o adoecimento mental e/ou emocional.
Calar não traz alívio. Calar não constrói ponte: nem com a própria alma nem com os outros.
O afastamento e a reclusão só aumentam o distanciamento interno e externo. Então é preciso falar, expressar, não para qualquer pessoa. Tem pessoas que, querendo ajudar atrapalham. Atrapalham, sobretudo, quando trazem “conhecimento de bolso”, quando repetem o que ouviram e acham que faz sentido para todos.
O que ajuda? Falar e expressar para quem sabe acolher e escutar. A escuta clínica é diferente porque busca reconhecer a alma, o Self. Na clínica há a presença de alguém que verdadeiramente quer escutar. Você já tentou expressar algo importante e percebeu que a pessoa não ouviu o que você disse? Que a pessoa distorceu? Que a pessoa respondeu mais sobre si mesma do que sobre você?
A escuta clínica é diferenciada porque não está ali para “aconselhar”, mas para conduzir na construção da ponte entre o ego (centro da consciência, aquilo que costumamos chamar de eu); e o Self (nossa alma ou Espírito Pessoal). E estamos vivenciando um momento histórico onde finalmente, embora muito lentamente, mais e mais pessoal compreendem a importância de falar. Assim trazem a alma para a escuta clínica para que possam descobrir não apenas o centro interno, a alma, o Sefl. Mas também desejam descobrir a própria voz, a verdadeira voz (e com ela sua potência). E descobrir o rosto mais íntimo em meio a tanta persona.
E você já percorreu algum processo de análise pessoal? O quanto você sente que mudou? Quanta força descobriu? E quanta força por trás da sensibilidade? Porque embora o ego procure ser forte intelectualmente a alma é forte em sua sensibilidade profunda e acolhedora.







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